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domingo, 4 de janeiro de 2015

Berzoini assume e já cita projeto de censura da imprensa

Instalado na pasta das Comunicações a pedido do PT, ministro afirmou que o Palácio do Planalto enviará ao Congresso projeto de controle da mídia

Laryssa Borges, de Brasília
Deputado Ricardo Berzoini PT/SP
O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), nomeado ministro das Comunicações (Gilberto Nascimento/Agência Câmara/VEJA)
Nos primeiros minutos depois de assumir o Ministério das Comunicações, nesta sexta-feira, o petista Ricardo Berzoini deu declarações autoexplicativas sobre as razões de ter sido instalado no cargo: disse que o governo vai tentar implementar seu projeto de censura da imprensa, agora batizado pelo PT de regulação econômica da mídia.
Fiel escudeiro do ex-presidente Lula, de quem foi ministro, Ricardo Berzoini tem raízes no sindicalismo bancário, foi presidente do PT e é conhecido na Câmara dos Deputados pelo estilo truculento e pela ligação com as alas mais radicais do partido. A pedido de Lula e do comando do PT, ele assume a cadeira que era ocupada pelo paranaense Paulo Bernardo, que não encampava a proposta de censura aos meios de comunicação.
“O Poder Executivo pode fomentar a discussão. Todos os setores da economia que têm grande impacto social e econômico são regulamentados”, justificou. Para o ministro, o projeto fala "regulação econômica" porque o debate começará sobre as concessões públicas.
Após receber o cargo de Bernardo, Berzoini disse que empresários, sindicalistas e representantes de movimentos sociais serão chamados para discutir a proposta que o Executivo apresentará para votação no Congresso. De acordo com o novo ministro, inicialmente não há a intenção de incluir na proposta a regulação de conteúdo – como pretende o PT. Mas isso inicialmente: o próprio Berzoini admitiu que, “se for bem conduzida”, essa proposta “pode ser bem sucedida” e não conseguiu esconder o DNA bolivariano da proposta. "Se houver participação popular, tanto melhor."
Pela proposta do PT, para quem a imprensa livre é tratada como oposição, além de direcionar sua artilharia contra os grandes grupos de comunicação, um dos focos é a distribuição da receita publicitária aos veículos de informação – o que poderia redundar, no futuro, no controle indireto do conteúdo pelo governo.

Desde que assumiu o Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff procurou manter distância do projeto petista de censura da imprensa: sepultou, inclusive, o projeto de lei para "regulação das comunicações", elaborado pela legenda durante o governo Lula, e que trazia na raiz o embrião autoritário da censura. Na gestão Lula, o principal entusiasta do projeto era o ex-ministro Franklin Martins, um dos responsáveis pela baixaria nas redes sociais disseminada pela campanha à reeleição de Dilma.
No ano passado, Dilma havia afirmado que pretende abrir um "processo de discussão" sobre a regulação econômica da imprensa. Disse que não sabia ainda como seria esse processo, mas afirmou que "isso jamais poderá ser feito sem consultar a sociedade". Pelas palavras de Berzoini, a sociedade a ser ouvida são grupos de sindicalistas e movimentos sociais aliados do PT.
Fonte: VEJA

Deformidades mentais

Olavo de Carvalho
A amostra mais reveladora da política brasileira nos últimos tempos não é o Petrolão, mas o caso Bolsonaro.
Pelo menos desde os estudos de François Furet, que datam de duas décadas atrás (especialmente Le Passé d’une Illusion, 1995), já não é permitido a nenhuma pessoa intelectualmente responsável ignorar que a formação comunista não introduz apenas algumas crenças falsas na mente humana, mas deforma gravemente a sua percepção da realidade em geral, nas grandes como nas pequenas coisas, na esfera da política e da História como na da moral e dos sentimentos.
Isso transparece em praticamente qualquer atitude pública de um líder ou militante comunista, mas com diferentes graus de nitidez. Em certos casos é preciso escavar fundo, em outros a deformidade se evidencia logo ao primeiro exame, só permanecendo invisível ao próprio indivíduo que a ostenta e aos membros do seu círculo que padecem do mesmo handicap.
Como é regra geral entre psicopatas, bem como entre os histéricos que os imitam, os comunistas não revelam suas verdadeiras intenções quando estão com medo, mas quando se sentem seguros contra um inimigo minoritário que lhes parece indefeso o bastante para ser estraçalhado sem grande dificuldade. Encorajados pela vantagem numérica, passam da desconversa escorregadia à ostentação do ódio mais descarado e inumano, sem medo de ser felizes com a desgraça alheia.
Por isso, entendo que a amostra mais reveladora da política brasileira nos últimos tempos não é o Petrolão, mas o caso Bolsonaro. A própria diferença de proporções entre um escândalo mundial e uma intriga de galinheiro já implica que num deles os sintomas apareçam com mais clareza. Se no primeiro o que se observa é uma corrida desperada aos subterfúgios, às desculpinhas e ao confusionismo mais alucinante, no segundo cada novo assanhadinho  que acrescenta sua voz ao coro dos decapitadores se esmera em exibir, não só com despudor, mas com orgulho obsceno, toda a feiúra e sujeira da sua alma. 
O mais recente deles foi o comentarista de futebol e política, Juca Kfouri, que, no intuito de criminalizar per fas et per nefas o deputado da direita, modificou a frase ofensiva dita à deputada Maria do Rosário e bem documentada em vídeo, de “Jamais estupraria você porque você não merece”, para “Só não estupro você porque você não merece”, transformando um sarcasmo cruel, mas inócuo, numa apologia do estupro, se não numa ameaça de cometê-lo. Kfouri, com toda a evidência, não julga Bolsonaro pelo que este disse, mas pelo que gostaria que ele tivesse dito para mais facilmente poder condená-lo.  
Raras vezes a má-fé de um caluniador se revelou de maneira tão escancarada. Confiram emhttp://blogdojuca.uol.com.br/2014/12/bolsonaro-e-a-covardia-de-24-partidos/. Se existisse no jornalismo brasileiro um pingo da tão propalada “ética”, o autor dessa fraude abjeta, caso não pedisse desculpas ao ofendido, seria expulso da profissão a cusparadas.
Na mesma semana, a deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) afirmou que “quando ele (Bolsonaro) diz que Maria do Rosário não merece ser estuprada, diz subliminarmente que algumas mulheres merecem e que ele é sim um potencial estuprador”. Vejam em http://www.brasil247.com/pt/247/rs247/164759/Manuela-'Bolsonaro-é-um-potencial-estuprador'.htm. Como já expliquei aqui, o verbo “merecer” foi usado pelo deputado para insinuar, de maneira canhestra e, a meu ver, com patente injustiça, que a ofendida não tem os dotes físicos requeridos para despertar desejo em estupradores ou em qualquer homem que seja. A sra. D’Avila transfigura o gracejo de mau gosto numa afirmação literal de que algumas mulheres merecem realmente sofrer violência sexual. Mas, se foi isso o que o deputado quis dizer, por que excluiria desse destino brutal justamente a mulher que naquele momento ele desejava hostilizar, reservando o “mérito” para as que nada haviam feito contra ele? Isso seria um anti-insulto completamente vazio, umflatus vocis sem nenhum poder de fogo. A interpretação que a sra. D’Avila faz  do episódio revela a mesma sanha kfouriana de forçar a semântica para dar às palavras do deputado a acepção de uma ameaça criminosa, não recuando nem mesmo ante o ilogismo mais gritante. A incapacidade de perceber sarcasmo é às vezes sintoma de doença mental, às vezes prova de analfabetismo funcional. Em qualquer dos dois casos, como pode a sra. D’Avila estar qualificada para sondar “intenções subliminares” numa frase cujo sentido e cujo tom lhe escapam tão completamente? Como aceitar que tão ostensiva demonstração de inépcia lingüística habilite sua autora a bancar a psiquiatra forense?
Não é a primeira vez que o deputado é alvo de ataques desse tipo, tão odientos quanto despropositados. Um cartaz do PT, recentemente distribuído pela internet, responsabilizava-o moralmente pelos cinqüenta mil estupros registrados no Brasil (número que discutirei num artigo vindouro), sem explicar, é claro, como os rigores da legislação anti-estupro exigida pelo sr. Bolsonaro poderiam ter produzido tão paradoxal resultado.
Fiel a essa lógica invertida, a sra. Jandira Feghali, do PCdoB, não só xingou novamente o deputado de “estuprador”, sem apontar quem diabos ele teria estuprado, como também pediu a cassação do seu mandato pelo crime de haver respondido com grosseria à agressão intempestiva, sem provocação ou motivo, que sofrera da deputada Maria do Rosário Nunes (v. http://sigajandira.com.br/site2/jandira-reage-a-bolsonaro-e-pede-cassacao-de-mandato/).
Não vejo por que defender o deputado. Pela enésima vez ele vai provavelmente vencer e humilhar seus perseguidores. A própria Manuela D’Ávila reconheceu a inocuidade jurídica do antibolsonarismo organizado, ao declarar que o deputado “se empodera pelas recorrentes absolvições” (sic) – como se absolvições nada valessem face à ciência superior de uma mocinha que mal entende o que lê. E a explosão caluniosa do sr. Kfouri foi causada pela sua frustração diante do fato de que só quatro entre os vinte e oito partidos do Congresso aderiram ao pedido de cassação.
No entanto, é irresistível, diante da estranheza do fenômeno, investigar o que poderia tê-lo causado. É o que farei nos próximos artigos. A coisa é muito mais reveladora do que o leitor pode imaginar à primeira vista.

P. S. -- Eu seria o último a supor que o sr. Kfouri fingiu conscientemente sua indignação ante o que chamou de “covardia” dos partidos não-aderentes. O fingimento histérico não é jamais premeditado: é um modo de ser arraigado e constante, uma segunda natureza: a mente deformada pela auto-intoxicação comunista não precisa deformar-se de novo e de novo para cada encenação subseqüente – o teatro permanece em função ininterrupta, não deixando espaço para que o ator perceba algum hiato entre o personagem representado e a sua condição real de pessoa humana. É por isso que, diante da conduta histérica, falham por completo os critérios usuais de distinção entre a sinceridade e a hipocrisia.
Publicado no Diário do Comércio.

domingo, 30 de novembro de 2014

O nexo Irã-Cuba-Venezuela

Mary Anastasia O’Grady

Na Venezuela e na Bolívia o Irã deu mais um passo, ao desenvolver uma presença militar através de acordos conjuntos nas indústrias de defesa. Na Venezuela, a zona zero desta atividade é o estado Aragua, onde El Aissami é o governador.


Meus leitores lembrarão que em julho os Estados Unidos solicitaram às autoridades locais a prisão e a extradição do general venezuelano Hugo Carvajal, por suspeita de tráfico de drogas com as guerrilhas colombianas. Carvajal foi detido mas a Holanda interveio, rechaçou o pedido de extradição e o deixou em liberdade.

O general havia sido enviado para ser o cônsul venezuelano na ilha e difundir propaganda bolivariana. Teria sido uma importante detenção de inteligência para os Estados Unidos. Por isso não foi muito surpreendente que o ministro de Relações Exteriores venezuelano na ocasião, Elías Jaua, e a esposa do presidente Nicolás Maduro, Cilia Flores, celebrassem a decisão da Holanda recebendo o avião no qual Carvajal regressou a Caracas.
A terceira pessoa de alto nível no comitê de boas-vindas no aeroporto - o governador do estado Aragua, Tarek Zaidan El Aissami Maddah, parecia fora de lugar porque não pertence ao governo nacional. Bem, isso se não se leva em conta seu currículo: parte mestre das relações com o Oriente Médio, parte revolucionário cubano honorário e parte chavista altamente ambicioso, El Aissami é o sonho tornado realidade para Teerã e Havana. Isso o converte em um homem influente na Venezuela.

Embora o presidente Barack Obama seja pressionado por ativistas de esquerda para mudar a política dos Estados Unidos sobre Cuba antes da próxima Cúpula das Américas que será celebrada em abril no Panamá, suas opções são limitadas por leis que requerem a aprovação do Congresso para realizar mudanças. Não obstante, uma decisão importante em suas mãos é eliminar Cuba da lista de estados que patrocinam o terrorismo do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Antes que o presidente faça isso, os norte-americanos devem estar a par das acusações de um analista de segurança da região sobre o trabalho de El Aissami a favor do islam radical e respaldado por Cuba.

O ocidente está ciente da crescente presença do fundamentalismo islâmico na América, porém as autoridades poderiam estar subestimando a ameaça. Joseph Humire é um analista de segurança e co-editor de Iran’s Strategic Penetration of Latin America (algo assim como A penetração estratégica do Irã na América Latina), um livro publicado este ano. Em uma entrevista na semana passada em Nova York, Humire descreveu o progresso considerável do Irã, ao longo de três décadas, em estabelecer operações na região.

As etapas iniciais do processo incluíram agentes clandestinos que usaram mesquitas para fazer conexões no interior das comunidade muçulmanas, e depois aproveitaram essas relações para ter acesso à riqueza e ganhar proeminência política. Nos lugares onde estas primeiras incursões foram exitosas, assinala Humire, o Irã abriu embaixadas e estabeleceu acordos comerciais que permitem aos agentes criar negócios, que podem ser utilizados como fachadas para operações encobertas.

Na Venezuela e na Bolívia o Irã deu mais um passo, ao desenvolver uma presença militar através de acordos conjuntos nas indústrias de defesa. Na Venezuela, a zona zero desta atividade é o estado Aragua, onde El Aissami é o governador.

Havana aplaude a intervenção islâmica. Desde o surgimento do chavismo, Cuba proporcionou serviços de inteligência à Venezuela e seus aliados regionais, principalmente Nicarágua, Bolívia e Equador. Humire diz que também forneceram tecnologia da informação para passaportes, o que permitiu a esses países tramitar documentos a pessoas do Oriente Médio, outorgar documentos novos e manter em segredo suas verdadeiras identidades. Cuba utilizou esta capacidade para intercambiar informação com países afins, inclusive Rússia e Irã.

Criado na Venezuela por um pai nascido no Líbano e doutrinado pelo movimento estudantil de esquerda Utopia 78, na Universidade de Los Andes, foi ministro do Interior entre 2008 e 2012. Segundo um informe de junho de 2014 do Center for a Secure Free Society, com sede em Washington, do qual Humire é diretor executivo, “autoridades regionais de inteligência” acreditam que o escritório de El Aissami utilizou tecnologia da informação desenvolvida pela segurança estatal cubana, para outorgar a 173 pessoas do Oriente Médio novas identidades venezuelanas que são extremamente difíceis de rastrear.

O informe, Canada on Guard: Assesing the Immigration Threat of Iran, Venezuela and Cuba (algo como Canadá em guarda: avaliando a ameaça imigratória do Irã, Venezuela e Cuba), assinala que autoridades de inteligência da região acreditam que “entre as pessoas mais notáveis” que receberam documentos falsos de Caracas estavam Suleiman Ghani Abdul Waked, um importante membro do Hizbolah libanês. O mesmo informe, que cita entrevistas com autoridades de inteligência latino-americanas anônimas, sustenta que El Aissami construiu “um conduto terrorista criminoso que traz militantes islâmicos à Venezuela e países circundantes, e envia fundos ilícitos da América Latina ao Oriente Médio”. Humire me disse que o governo venezuelano qualificou o informe como propaganda norte-americana.

Aragua é a sede de Parchin Chemical Industries (PCI) e Qods Aviation, duas empresas das Forças Armadas iranianas que têm sociedade com a indústria militar venezuelana, segundo Iran’s Strategic Penetration of Latin America. PCI é fabricante de explosivos, munição e propulsores de mísseis. Qods é produtor de veículos aéreos não-tripulados. Ambas companhias foram sancionadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, sob a Resolução 1747.

O capítulo escrito por Humire assinala que Havana agora “tenta cancelar sua dívida com o Irã”, para receber assistência econômica de Teerã. Esta ajuda, sem sombra de dúvida, estará condicionada a um maior acesso iraniano aos países sob a influência cubana, inclusive Venezuela, diz o expert. Provavelmente recorrerão a El Aissami, para que ele os ajude.
 
Tradução: Graça Salgueiro

OAB e sua insólita Comissão da Verdade sobre a escravidão negra. Mas sobre o Petrolão, nada

Percival Puggina

A tarefa, é claro, tem que envolver o governo petista. Qualquer outro, mandaria a OAB cuidar da própria vida. Mas sabe bem a OAB que se o governo não participar não aparece dinheiro para a colheita.

A recente decisão tomada pelo Conselho Federal da OAB me fez ver como esses devaneios históricos transitam no Brasil. Devagar e sempre. Demoram mas vão para onde os querem levar. As motivações para que avancem são muitas e graves: é tudo questão de privilégio, poder e dinheiro.

A notícia me lembrou de um artigo que escrevi em 1999, para o Correio do Povo. Estávamos, no Rio Grande do Sul, sob o governo petista de Olívio Dutra, nosso conhecido Exterminador do Futuro. A Secretaria de Educação, totalmente dedicada à conquista gramsciana da hegemonia, lançara uma cartilha que tratava obviedades históricas como achados ideológicos do governo popular e democrático. O texto que escrevi a respeito dessa cartilha tinha por título "Aqui são outros quinhentos" e, lá pelas tantas, dizia assim:
"Doravante, de acordo com o livrinho vermelho dos pensamentos da SEC, passa-se a ensinar a grande novidade de que havia índios no local do desembarque ocorrido em 21 de abril de 1500, atribuindo-se a esse episódio, portanto, o nome de Invasão. Tal verdade histórica estabelece uma conveniente referência para homologar as práticas do MST. Nesse livreto é ensinado ao povo que o país chamado Brasil, constitui, há cinco séculos, um sinistro e gigantesco usucapião lançado contra os primitivos e legítimos proprietários."
E prossegui, ironizando: "Também é denunciado, ali, que os ancestrais dos negros e mulatos foram trazidos para a América como escravos, nos infectos porões de navios negreiros. Quem ler a cartilha fica com a impressão de que antes do governo popular e democrático, a versão dominante é a de que os negros aportaram ao Brasil como turistas, a bordo de confortáveis transatlânticos. Só a democracia popular e participativa do governo petista teria permitido arrancar o véu da mentira e revelar para a História, que os escravos, inclusive, trabalhavam de graça e eram frequentemente maltratados."
Passados 15 anos, chega a vez da OAB. Transitando ao largo de bibliotecas inteiras, toneladas de livros escritos sobre o tema em diversos idiomas, propõe ela que o governo crie uma Comissão da Verdade sobre a escravidão. A tarefa, é claro, tem que envolver o governo petista. Qualquer outro, mandaria a OAB cuidar da própria vida. Mas sabe bem a OAB que se o governo não participar não aparece dinheiro para a colheita.
Enfim, na perspectiva dos pais da ideia, tudo se passa como se a vinda dos escravos africanos fosse um mistério insondável, um autêntico naufrágio da verdade que agora, felizmente, sob um governo que sabe muito bem criar e se beneficiar de cisões e ressentimentos, será "resgatada" dos mais profundos abismos da história universal. Parolagem político-ideológica que a Secretaria de Educação do governo Olívio Dutra iniciou no Rio Grande do Sul há 15 anos e que, agora, poderá render um "fundo de reparação" cuja conta, como sempre, virá para a sociedade. Como será com a farra do "Petrolão", a respeito do qual a OAB nada diz.
http://puggina.org

Fonte: Mídia Sem Máscara

Socialismo jabuticaba

Há quem acredite que o povo brasileiro ainda vive num pleno regime democrático e que dizer que estamos num regime socialista é atestar a própria loucura. Seria mesmo loucura? Talvez a resposta a algumas perguntas possam ajudar a entrever uma conclusão.
1. O que é fomentado hoje nos meios educacionais e midiáticos? Ajudar o próximo e melhorar seu entorno ou deixar que o governo faça isso por você?
2. Temos instituições civis fortes o bastante para impedir a degradação civilizacional do país?
3. Nossa imprensa é livre?
Quanto a primeira: ambos os meios impelem o povo a optar pela força dos números. E quase a totalidade dele aceita muitas vezes por falta de opção. Incitam nesse mesmo povo a prontidão para usar o aparelho estatal em proveito do próprio grupo; o brasileiro em geral acabou se convencendo de que seu grupo imediato tem “direito de impor e dar força de lei aos seus problemas do dia a dia”. Pensando assim, a praça mal cuidada não é culpa da vizinhança desleixada, é culpa da prefeitura municipal que ainda não cresceu suficientemente seu aparato para estar onipresente; O problema do alastramento da criminalidade não tem parte da culpa em quem sugeriu que deveríamos abdicar da autodefesa, é somente culpa do Estado que ainda não criou um Estado policial onipresente; O caos burocrático não é culpa de um Estado cada vez maior, muito pelo contrário, é justamente por ainda não ter crescido o suficiente que não funciona, e assim por diante. Enfim, exemplos não faltam para ilustrar o quanto o indivíduo é degradado em prol de um comportamento grupal (ou comunal, nas palavras do lógico russo Aleksandr Zinoviev em seu livro A realidade do comunismo cuja abordagem sociológica da União Soviética tem muito a nos ensinar).
Quanto a segunda: Nossas instituições (políticas e civis) em sua grande maioria hoje servem para três coisas:

1 - Avançar as agendas marxistas de degradação moral e mental (gayzismo, abortismo, feminismo, etc.);

2 - Ridicularizar o povo — especialmente a classe média — e dizer que suas opiniões representam o que há de pior no pensamento humano (i.e. quando não age conforme a questão anterior), pois seu pensamento vai contra a agenda politicamente correta;
 
3 - Subverter o pensamento brasileiro (por força de um consenso fabricado) e destruir qualquer rastro de sanidade que resta na sociedade.
Segundo Zinoviev, quando não há instituições fortes num país (igrejas, escolas, universidades, imprensa verdadeiramente livre e liberdade real de opinião[1]) para barrar a avalanche das forças bárbaras, o que se tem como resultado é o florescimento de hipocrisia, violência, corrupção, má administração, irresponsabilidade, escassez de mão-de-obra, trapaças, grosseira, ociosidade, desinformação, falta de caráter e um sistema de privilégio para uma “privilegentsia” (os camaradas e integrantes do Partido). Tal era a situação soviética e tal é a nossa na falta de instituições fortes. Ainda de acordo com o lógico e escritor dissidente, nesse cenário “as nulidades são exaltadas e as personalidades significantes são aviltadas. Cidadãos moralmente superiores são sujeitos a perseguição e os mais talentosos e ativos são puxados para baixo até o nível do medíocre e do incompetente”. Para se chegar a esse ponto, é preciso que não só as autoridades façam isso, mas que também colegas, vizinhos e colegas de trabalho colaborem nesse empreendimento. Todos num esforço prometeico de aviltamento cujo resultado final é o império do tédio, a estagnação moral[2] e a depressão generalizada. Segundo Zinoviev, esse tipo de situação pode durar séculos.
Quanto a terceira: Sim e não. Sim, porque a imprensa ainda pode falar o que quer sem que ninguém vá para o paredón ou para o gulag. Não, porque o poder estatal é um dos maiores anunciantes do país e, portanto, influi diretamente na linha editorial dos seus anunciados ao exigir uma abordagem favorável, sob pena de cancelarem contratos multimilionários: imagine o que é para um grande veículo perder o filão de Caixa, Banco do Brasil, Petrobras, etc. Outro fato que pede uma resposta negativa é a ocupação da imprensa brasileira por milhares de militantes esquerdistas, que por sua vez permitem a existência de no máximo dois ou três articulistas “de direita” com o fim de dar a esse cenário o nome de “jogo democrático”. Há também mais um “não” à frente, pois em decorrência da questão econômica dos anunciantes e do aparelhamento ideológico a grande mídia virou um aparato de desinformação, isto é, um aparato que usa da confiabilidade que goza perante o consumidor para transmitir como verdadeiras notícias francamente falsas e, assim, alterar em prol de uma agenda específica as decisões que os próprios consumidores tomam no dia a dia. Em suma, a imprensa é parcialmente livre em pequenos veículos e em boa parte mentirosa e dissimulada nos veículos médios e grandes. É possível até mesmo noticiar verdadeiramente um fato e usá-lo para encobrir outro muito mais relevante que poderia prejudicar alguma parte interessada[3].

Conclusão

O Brasil pode ainda não ser uma União Soviética ou uma Cuba, mas ele já está preparadíssimo. Possui vários dos aspectos sociais e políticos chave de uma sociedade plenamente socialista (até mesmo a farsa eleitoral é bem parecida) e muitos sujeitos dispostos a comprar essa ideia de tirania coletiva e responsabilidade individual mínima. Porém, como bem disse Olavo de Carvalho[4], os demais países do Foro de São Paulo ainda precisam do nosso dinheiro para construírem seus paraísos socialistas.
Vivemos então num socialismo à brasileira. Coisa que só dá aqui mesmo.

Referências:
[1] v. “Gramsci e as próximas eleições” para saber como o gramscismo já eclipsou as mentes e tornou quase impossível uma divergência efetiva e consciente.
[2] Olavo de Carvalho, A Nova Era e a Revolução Cultural, v. Posfácio à edição de 2014.
[3] Alexandre Borges, “A fantástica fábrica de notícias”.
[4] Hangout entre Lobão e Olavo de Carvalho: http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/15550-2014-11-20-21-17-03.html

Leonildo Trombela Junior é jornalista e tradutor.

Fonte: Mídia Sem Máscara

O que se pretende esconder com a visita de Elías Jaua ao Brasil?

Entre os dias 20 e 31 de outubro o vice-presidente e ministro do Poder Popular para os Movimentos Sociais da Venezuela, Elías Jaua Milano, conhecido como o “protetor de Miranda”, estado venezuelano do qual foi governador, esteve visitando o Brasil como já é de conhecimento de todos. Segundo informações dadas por ele, a visita tinha como objetivo “um encontro com o Movimento Sem-Terra (MST) e assinatura de acordos em matéria de formação para a liderança local e de organização produtiva de comunidades. Em segundo lugar, explorar com a Prefeitura de Curitiba convênios de capacitação, e finalmente, reuniões com empresas de medicamentos para agilizar a importação dos mesmos”.

No dia 24 de outubro a babá dos filhos de Jaua foi presa no Aeroporto de Guarulhos, pois trazia em sua bagagem de mão um revólver calibre 38, o que no Brasil se configura como crime de tráfico de armas. Yaneth del Carmen Anza disse que desconhecia o conteúdo da bagagem, pois seu patrão havia lhe pedido que trouxesse uma maleta de mão com “documentos” que havia esquecido em casa e que iria necessitar. As informações se contradizem, pois a babá afirma que não sabia da existência da arma lá, enquanto Jaua afirma que teria telefonado fazendo o pedido mas “alertando” para que tirasse a arma e que os documentos eram para os trâmites do hospital em que sua esposa estava internada.

Yaneth veio acompanhada da sogra de Jaua, num avião da PDVSA, a estatal petroleira, do mesmo modo que Jaua, pois a Nomenklatura serve-se dos bens do Estado como se fossem de sua propriedade, com a alegação de fazer companhia à esposa do ministro que estava internada no Hospital Sírio Libanês, não se sabe desde quando nem para que tipo de tratamento. Yaneth foi presa e fichada, sendo liberada no dia 31 através de um pedido de habeas corpus, cujo advogado não é mencionado em lugar nenhum, mas podemos imaginar quem foi esse “abnegado”.

Na Venezuela, onde os meios de comunicação há décadas foram seqüestrados, a notícia das visitas indesejáveis ao Brasil só tornou-se conhecida por causa do incidente da babá, caindo como uma bomba sobretudo pelo uso dos aviões da PDVSA que passara a servir a interesses pessoais, uma vez que não foi visita oficial. Jaua limitou-se a emitir uma nota pública afirmando que a arma era de seu uso pessoal, mas não explicou por que usou, para ele e acompanhantes e depois para a babá e a sogra, um bem do Estado sem o conhecimento dos cidadãos venezuelanos. 

Os jornais brasileiros informaram que houve um certo desconforto no Itamaraty que afirmou não ter sido notificado da visita de Jaua, o que faz sentido pois o chanceler de fato é Marco Aurélio Garcia que deve ter sido informado da “visita”. E comenta-se que a Srª Rousseff mostrou-se “indignada”. Entretanto, não é segredo para ninguém que o MST é o braço armado do PT, que seus militantes já tiveram treinamento com elementos das FARC e que, embora não sejam membros oficiais, participam, junto com partidos e organizações comunistas de vários países, inclusive a Venezuela, dos Encontros do Foro de São Paulo. É possível que o Itamaraty de fato desconhecesse essas visitas não-oficiais e tenha qualificado como “ingerência em assuntos internos do país”, mas certamente teve o conhecimento e apoio do PT que é acostumado a agir do mesmo modo nos países-membros do Foro de São Paulo.

Na tal maleta apreendida pela Polícia Federal havia uma quantidade enorme de papéis e documentos sobre as eleições parlamentares venezuelanas, dentre os quais encontrava-se um ensinando como fazer a “revolução socialista” com itens como “identificar e neutralizar o inimigo”, quer dizer, o opositor ao governo.

Na Venezuela a indignação das pessoas está no fato de Jaua ter feito essa viagem, com direito a babá e sogra, usando um bem público para fins pessoais, com liberação ilimitada de dólares pelo CADIV. Para nós brasileiros, entretanto, a leitura deve ser de outro matiz e a meu ver muito mais grave. Estávamos em plena campanha para o segundo turno e a visita estendeu-se até depois das eleições. Que garantias nós temos de que Jaua não veio preparar o braço armado do PT para um levante, caso não se pudesse fraudar o resultado? Os coletivos venezuelanos, que já são mais de 100, armados até os dentes e todos a serviço do PSUV (partido do Governo), sempre declararam que estavam prontos para “incendiar” a Venezuela caso Chávez, e depois Maduro, não vencessem as eleições. Preparar esta gente do MST para a “revolução socialista” deve fazer parte dos acordos internos, aqueles que só o núcleo duro do Foro de São Paulo participa, para o Brasil neste segundo mandato da Srª Rousseff.

Devemos, pois, estar preparados para o que vem a partir do próximo ano, pois o que a imprensa nacional e estrangeira tem divulgado é que o MST “está insatisfeito com o governo” para distrair a população sobre os acordos internos que são tramados assim, como essa visita de Jaua e comitiva ao Brasil. Tudo teria passado despercebido se não fosse uma serviçal fiel mas tonta, que acreditou que seu patrão tinha poder sobre o céu e a terra.



segunda-feira, 24 de novembro de 2014

FHC que me perdoe, mas é imperdoável

Percival Puggina

Fernando Henrique descumpriu um dever moral perante o qual não poderia se omitir. Não é próprio dos homens de bem tolerar o que ele tolerou.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que me perdoe. Malgrado seus muitos e inegáveis méritos, ele tem grande responsabilidade pela expansão e consolidação de seus opositores no poder.

 Sim, a nação lhe deve boas iniciativas. Mas ele tem grave responsabilidade pela chegada do PT ao poder. Nada fez para evitar que isso acontecesse. Franqueou ao partido da estrela acesso à alma de parcela significativa do povo brasileiro pela via da mistificação e da mentira. Enquanto no governo, Fernando Henrique Cardoso prestava atenção e levava em grande conta o que Lula dizia. Havia algo de petista, um pigarro socialista, na garganta e na alma do acadêmico que governou o Brasil durante oito anos. Lula, por seu turno, uma vez eleito, teve o mérito de manter o que havia de melhor nas políticas de seu antecessor, lixando-se para o seu próprio discurso e para seu partido. Está aí o principal motivo do maior sucesso político do governo de Lula sobre o de FHC. Como consequência, o PT cresceu mais com FHC do que com Lula. Com Lula, o PT ganhou o controle da máquina. Com FHC o controle de corações e mentes.

O ex-presidente que me perdoe, mas isso é imperdoável. Visivelmente, ofereceu-se ele em holocausto para a vitória do PT. Tirou o casaco, a gravata e abriu a camisa para o assassinato de sua reputação. Permitiu que o importante trabalho social iniciado por sua mulher, Ruth Cardoso, fosse menosprezado e, depois, usurpado por seus adversários. Omitiu-se nas eleições subsequentes ou, por tudo isso, foi alijado delas por seus correligionários Serra e Alckmin. Retornou agora, tarde demais, idoso demais, irrelevante demais, na campanha de Aécio Neves.
Não agiu contra o assassinato da própria reputação. Não mostrou que o PT no governo, com todos os meios de investigação disponíveis, não provou uma única das acusações que lhe fez ao longo de oito anos. Não exibiu o consagrador estado de probidade administrativa representado por esse silêncio. Não se valeu dele para mostrar a criminosa capacidade de difamar e injuriar que caracteriza o petismo. Com tudo isso, Fernando Henrique descumpriu um dever moral perante o qual não poderia se omitir. Não é próprio dos homens de bem tolerar o que ele tolerou. Por agir como agiu, tornou possível o escárnio dos escárnios, que se manifesta quando os petistas, confrontados com a indizível tragédia moral em que se meteram, permitem-se afirmar que não são piores do que os demais. E encontram quem neles creia!

Ao abrir caminho, como de fato abriu, para o crescimento do PT e sua ascensão ao poder, Fernando Henrique fez mal ao Brasil. Desde que li o Manifesto de fundação do PT em 1980, eu sabia o que era e o que viria a ser esse partido. Com muito maior razão ele, homem inteligente e político experiente, tinha que saber o que iria acontecer quando o país caísse nas mãos em que veio a cair.

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Fonte: Mídia Sem Máscara