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quinta-feira, 20 de março de 2014

Dilma legitima os crimes políticos de Maduro





JOSÉ CARLOS SEPÚLVEDA DA FONSECA

Quando se menciona o papel de um mediador, entre indivíduos, instituições, empresas, grupos políticos ou países em posições antagônicas, vem-nos à mente uma figura isenta e sem compromissos com as partes, que possa debelar injustiças, abrandar posturas hirtas, harmonizar interesses opostos, alcançar acordos.
Ao longo de anos no poder, a diplomacia lulo-dilmo-petista criou diversas figuras bizarras, entre elas a do mediador-cúmplice. Em vez de isento, o mediador-cúmplice é comprometido por inteiro com uma das partes, inclusive com suas injustiças, arbitrariedades e até crimes e se propõe dessa forma buscar o “entendimento”.

É o que ocorre presentemente com a diplomacia brasileira – cada vez mais subjugada e degradada pelo petismo – na situação que vive a Venezuela.

Sem espaço para o desacordo
Todos os regimes totalitários – comunistas, nacional-socialistas, etc. – consagram o princípio de que as instituições e o conjunto da população se devem submeter ao projeto ideológico emanado do Estado, a serviço de um partido ou de uma organização política.

Não há, nessa perspectiva, espaço para o desacordo e todos aqueles que o manifestam são declarados inimigos do povo, conspiradores, traidores, a serviço de interesses escusos ou até de algum inimigo externo, de algum fantasmagórico imperialismo.

Assim se dá na Venezuela de hoje. A política é uma exclusividade do regime e dos fiéis ao “chavismo”. Todo aquele que, na relativa liberdade ainda reinante, se tornar opositor, passa a ser imediatamente visto como inimigo do povo, a ser esmagado; e qualquer manifestação pública de desacordo, um ato golpista e um atentado à pátria bolivariana.

A “ordem democrática” petista
Esta pervertida visão da democracia é endossada por Dilma Rousseff (a presidente em exercício), por Lula da Silva (o presidente de fato) e pelo Partido dos Trabalhadores.

De acordo com essa abjeta cartilha ideológica, qualquer protesto, ainda que seja de uma inofensiva estudante empunhando um cartaz, só pode ser considerado um ato de violência; as execuções de manifestantes – na sua maioria com um tiro na cabeça – um ato de defesa contra a “traição à pátria”; e a mediação como o inequívoco apoio ao regime “chavista”, liderado por Nicolás Maduro. É o que, cinicamente, Dilma Rousseff qualifica de manutenção da ordem democrática.

Sabotagem na OEA em prol da Unasul
Foi animado por esta postura ideológica que o Brasil votou contra o envio de observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos) à Venezuela e se opôs a uma reunião de chanceleres, no âmbito da organização, para debater os eventos naquele país.

Fazendo eco à retórica “chavista”, a diplomacia brasileira justificou sua atitude alegando que uma intervenção da OEA, pela presença dos Estados Unidos nos quadros da organização, poderia agravar os conflitos. Enquanto o Brasil – dito seja de passagem – finge que não vê a presença crescente de cubanos no controle de organismos do Estado venezuelano, inclusive nas Forças Armadas.

Dilma Rousseff apostou, pois, por uma reunião da Unasul – solicitada por Nicolás Maduro – a fim de “mediar” a crise na Venezuela.

O resultado não podia ser outro. A Unasul (União de Nações Sul-Americanas), concebida desde sua origem para apoiar a integração sul-americana bafejada pelo projeto bolivariano, deu respaldo ao regime de Maduro e à chamada Conferência Nacional pela paz, convocada por este último; um simulacro de diálogo montado como arma de propaganda, enquanto o regime prende opositores, sem o devido processo legal, e a Guarda Nacional Bolivariana e os “colectivos” (forças paramilitares e gangues armadas) continuam a perseguir e executar manifestantes nas ruas, e a invadir residências sem qualquer mandato.

Projeto de poder socialista e autoritário
As atitudes da Presidente Dilma Rousseff, e de sua diplomacia, deixam patente que o governo petista é animado – e sempre o foi – por um projeto socialista e autoritário de poder.

No passado muitos repetiam, ardilosamente, que as vias do lulismo eram diversas das do chavismo e que a moderação de Lula continha o radicalismo de Chávez. O tempo se encarregou de demonstrar que o lulo-petismo (hoje na versão Dilma Rousseff) sempre tentou acobertar e salvar em suas crises o “chavismo” (hoje na versão Nicolás Maduro). Quando o regime da Venezuela descamba para a repressão assassina e para a catástrofe econômica, a diplomacia conduzida por Dilma Rousseff e inspirada pela nefasta figura de Marco Aurélio Garcia, tenta cimentar na América do Sul a ditadura do “socialismo do século XXI”, amparada por Cuba, Rússia e China.

Dilma degrada a diplomacia
O jornal O Estado de S. Paulo estampou ontem (13.mar.2014) um editorial inequívoco a este respeito, que gostaria de compartilhar com os leitores deste blog. Seu título: Dilma degrada a diplomacia:
  • A presidente Dilma Rousseff definitivamente rebaixou o Brasil à condição de cúmplice de regimes autoritários na América Latina. Não bastasse a reverência (e o vasto financiamento) à ditadura cubana, Dilma agora manobra para que os atos criminosos do governo de Nicolás Maduro contra seus opositores na Venezuela ganhem verniz de legitimidade política.
    Em vez de honrar as tradições do Itamaraty e cobrar do regime chavista respeito aos direitos humanos e às instituições democráticas, a presidente desidratou a única iniciativa capaz de denunciar, em um importante fórum internacional, a sangrenta repressão na Venezuela, que já matou duas dezenas de pessoas. Mandou o representante do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA) votar contra o envio de uma missão de observadores à Venezuela e impediu que a entidade reunisse seus chanceleres para discutir a crise.
    Como todos os líderes populistas da região, Dilma considera que a OEA é quintal dos Estados Unidos. O falecido caudilho Hugo Chávez costumava referir-se à organização como "instrumento do imperialismo", entre outros nomes menos simpáticos. Para o governo petista, contaminado pelos ares bolivarianos, uma decisão da OEA sobre a Venezuela poderia ser considerada inoportuna e com potencial para acirrar as tensões. Assim, a título de não melindrar Maduro, premiam-se a brutalidade e a indisposição para o verdadeiro diálogo democrático.
    Manietada pelo Brasil e por seus parceiros bolivarianos, a OEA limitou-se a emitir uma nota cuja anodinia mal disfarça a tentação de apoiar Maduro. O comunicado manifesta "solidariedade" ao presidente e dá "pleno respaldo (...) às iniciativas e aos esforços do governo democraticamente eleito da Venezuela" no "processo de diálogo nacional" - como se fosse autêntica a pantomima a que os chavistas chamam de "Conferência de Paz". Estados Unidos, Canadá e Panamá votaram contra essa nota, pela razão óbvia de ela não refletir os compromissos da OEA com a democracia e os direitos humanos.
    O passo seguinte da manobra, este ainda mais escandaloso, foi convocar uma reunião de chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) para acertar o envio de um grupo de "mediadores" para a Venezuela. A Unasul, como se sabe, é instrumento dos governos bolivarianos - desimportante, ela hoje só existe para dar reconhecimento a governos claramente antidemocráticos, em nome de uma certa "integração latino-americana".
    Assim, os tais "mediadores" da Unasul não farão nada além do que deles se espera, isto é, fazer vista grossa às ações violentas de Maduro. Ao anunciar a iniciativa, Dilma explicou, em seu linguajar peculiar, que a ideia é "fazer a interlocução pela construção de um ambiente de acordo, consenso, estabilidade, lá na Venezuela". Ora, que "diálogo" é possível quando não se pretende exercer a necessária pressão diplomática sobre Maduro, que reprime manifestantes usando gangues criminosas e encarcera dissidentes sem o devido processo legal?
    Portanto, a constituição de uma comissão na Unasul para a Venezuela tem o único objetivo de deixar Maduro à vontade, sem ser constrangido a recuar e a ouvir as reivindicações da oposição - que basicamente protesta contra a destruição da Venezuela pelo "socialismo do século 21".
    Percebendo o truque, os oposicionistas venezuelanos trataram de enviar uma carta à Unasul em que pedem aos países-membros que observem os acontecimentos no país "com objetividade" e que a entidade "não seja usada como um instrumento de propaganda". Mas é justamente disso que se trata: se tudo ocorrer conforme o script bolivariano, a Unasul vai respaldar o governo Maduro, revestindo-o de legitimidade - o que, por conseguinte, transforma a oposição em golpista.
    Ao tratar de forma leviana este grave momento, em respeito a interesses que nada têm a ver com a preservação da ordem democrática na região, o Brasil torna-se corresponsável pela consolidação de um regime delinquente.
(A ilustração que encima este post é de uma campanha lançada na Venezuela e que se espalhou pelas redes sociais - twitter: @_calavera_)

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