Meus caros amigos,
Trabalhando
desde junho de 2010 na UTI do Hospital Nossa Senhora da Conceição em
Porto Alegre, minha contínua luta contra as barbaridades feitas contra a
saúde pública no Brasil são do seu conhecimento. Foi através do blog de
Ricardo Setti na Revista VEJA que, no início de 2013, “Santa Maria e a
Guerra do Vietnam” (artigo de minha autoria) chegou ao conhecimento
público trazendo um sério aviso sobre a vinda dos médicos cubanos.
Depois de “Carta à Presidente Dilma” e de uma série de outros textos
publicados tanto no meu blog “Ataque Aberto” quanto no grupo de
Facebook, “Inglourious Doctors”, comecei a pagar, pessoalmente, dentro
do meu emprego, o preço das minhas opiniões políticas.
Assassinar
reputações de inimigos não é tática nova da esquerda brasileira. O
doutor Romeu Tuma Júnior provou isso ao país. Trabalhando num grupo
hospitalar que atende 100% dos pacientes pelo SUS, no qual entrei por
concurso público e que é controlado por gente do PC do B, acredito que
não seja necessário ser teórico da conspiração para compreender e
aceitar o que acontece com aqueles que se opõem ao modelo de gestão de
saúde no Brasil. Antiga, mas eficiente, a tática é sempre a mesma:
atribuir desempenho ruim nas avaliações funcionais e relatos de
conflitos e dificuldade de relacionamento no local de trabalho funcionam
como estopim dos processos administrativos, como os quais se pretende
“limpar” o serviço público dos opositores.
Ontem,
dia 22 de setembro, chegando ao Hospital Conceição para trabalhar na
UTI, fui notificado de que meu ponto estava “suspenso”. Encaminhado ao
setor de RH recebi informação de que eu mesmo, como médico, estou
suspenso do hospital por 60 (sessenta dias) sem perda de remuneração.
Argumenta a instituição que isso visa não prejudicar o processo
administrativo disciplinar – PAD número 51/14 em que se pretende a minha
exoneração. Não sei quais são os termos de acusação; não sei ao que
respondo e não tive, até agora, chance de defesa alguma. Em apelação
administrativa de avaliação funcional prévia considerada muito
insuficiente, testemunhas identificadas como “trabalhador da saúde
1,2,3,4..etc..” me acusam de “não examinar os pacientes, não lavar as
mãos, de conflitos com familiares de pacientes da UTI , de jogar
equipamentos no chão e não usar equipamentos de proteção individual”. E
afirmo que não sei, oficialmente, o nome de NENHUMA das pessoas que
disseram isso naquele processo, que não lhes foi exigida prova alguma e
que, tomadas como VERDADES corroboradas pela minha chefia tais
declarações acabaram com a minha vida funcional.
Meus
amigos, o que está acontecendo comigo não é exceção; é a regra sobre
aquilo que os médicos brasileiros enfrentam em seu trabalho quando
decidem questionar a maneira dessa gente conduzir a saúde pública.
Minhas chances no processo administrativo, cuja cópia sequer tenho
ainda, não são muitas; na justiça comum acredito que haja alguma
alternativa. Resta nesse momento apelar para o que essa gente mais teme:
à publicidade, à divulgação em massa e pela imprensa que ainda está
livre daquilo que eles querem fazer na surdina. Daquilo que eles fazem
melhor e querem esconder: o assassinato de reputação e o total
aparelhamento do serviço público no Brasil, garantidos pelo terror
infundido sobre seus subordinados. O efeito é garantido por lei: a lei
do silêncio de todos nós.
Grande Abraço,
Milton Pires
Médico
Porto Alegre, 23 de setembro de 2013.
http://ataqueaberto.blogspot.com.br/
Fonte: Mídia Sem Máscara
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